O Brasil Enfrenta uma Escassez Histórica de Trabalhadores na Construção Civil

O Brasil está passando por uma escassez histórica de mão de obra na construção civil, o que é preocupante para as grandes obras, tanto públicas quanto privadas, em todo o país. Com o setor se recuperando através do PAC, do crescimento do crédito imobiliário e da ampliação de empreendimentos logísticos e energéticos, o que antes parecia um problema específico agora é uma crise maior e estrutural. A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) e dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram um déficit de mais de 235 mil profissionais qualificados na área, o que é o maior número em 20 anos.

Déficit Crescente e Canteiros Ociosos

Construtoras e empresas de engenharia têm encontrado dificuldades para preencher vagas, especialmente para funções como pedreiro, servente, carpinteiro, encanador e eletricista. Em regiões que estão se desenvolvendo rapidamente, como o Nordeste e o Centro-Oeste, muitos canteiros de obras estão operando com apenas 65% da força de trabalho necessária.

José Carlos Martins, presidente da CBIC, descreve a situação como um “apagão técnico”. Ele menciona que existe dinheiro, projetos e demanda, mas falta de profissionais para realizar as obras. Durante a pandemia, o setor perdeu cerca de 1 milhão de trabalhadores, e muitos deles ainda não voltaram ao mercado.

A situação é complicada pela escassez de formação profissional. Cursos técnicos voltados para a construção civil, como os de mestres de obras, operadores de equipamentos e técnicos em edificações, têm mostrado uma queda no número de alunos. O SENAI relata que a oferta de cursos diminuiu perto de 25% na última década, enquanto a procura por profissionais na área aumentou mais de 45%.

Jovens Rejeitam o Setor e Salários Disparam

Um dos grandes desafios é que os jovens não estão interessados em trabalhar na construção civil. Menos de 15% dos jovens brasileiros consideram essa área atraente. O trabalho físico exigente, as longas jornadas sob o sol e os salários historicamente baixos têm afastado essa nova mão de obra. Como resultado, muitos profissionais veteranos estão se aposentando, sem que seus postos sejam preenchidos.

Para tentar reverter essa situação e conter a saída de trabalhadores, muitas construtoras estão oferecendo salários até 65% mais altos para funções básicas. Um pedreiro que ganhava R$ 2.500 mensais em 2023 pode agora receber mais de R$ 4.500, dependendo da localidade. Mestres de obras podem ganhar até R$ 8.500, com benefícios e alojamento incluídos. Apesar dessas aumentos, ainda existem mais de 125 mil vagas em aberto no setor atualmente, o que resulta em custos adicionais e prazos maiores para a conclusão de projetos.

A Reindustrialização e o Boom Imobiliário Intensificam o Problema

O aumento de investimentos, tanto públicos quanto privados, tem acelerado ainda mais a escassez de mão de obra. O Novo PAC, lançado em 2023, prevê mais de R$ 1,7 trilhão em obras até 2026, abrangendo portos, rodovias, saneamento, ferrovias e moradias do programa habitacional que busca oferecer mais casas no país.

Além disso, o ciclo de crescimento imobiliário em regiões urbanas e capitais intermediárias, como Goiânia, Fortaleza e Campinas, elevou ainda mais a demanda por trabalhadores qualificados. Grandes empreiteiras, como MRV, Direcional e Pacaembu, relatam atrasos médios de 65 dias em seus projetos devido à escassez de mão de obra.

Obras industriais de energia solar e eólica também enfrentam dificuldades, pois há uma falta de montadores, eletricistas e operadores de gruas. A Associação Brasileira de Energia Solar (ABSOLAR) aponta que cerca de 35% das novas usinas estão em funcionamento com equipes reduzidas.

Empresas Apostam em Inclusão e Tecnologia para Preencher o Vácuo

Diante desse cenário desafiador, o setor da construção civil está explorando duas soluções complementares: a inclusão de novos perfis e a automação. As construtoras estão aumentando a contratação de mulheres, pessoas mais velhas e trabalhadores de outros setores, além de oferecer formações diretas nos canteiros de obras.

Programas em parceria com o SENAI e o Sistema S oferecem cursos de formação acelerada, com somente 165 horas, garantindo certificado e a chance de conseguir um emprego logo após o treinamento. Em São Paulo, o projeto “Mãos à Obra 4.0” já capacitou mais de 5.500 trabalhadores em um ano, com uma taxa de empregabilidade de 90%.

Ao mesmo tempo, o investimento em tecnologia também está crescendo. Construções que utilizam métodos modulares, impressão 3D de concreto e automação estão sendo exploradas. A startup paranaense TecBuild, por exemplo, utiliza robôs para colocar blocos, o que diminui em até 45% a necessidade de mão de obra em obras de médio porte. Contudo, especialistas afirmam que a automação não deve substituir os trabalhadores humanos a curto prazo; ela servirá para amenizar a escassez de profissionais.

O Futuro da Construção e o Risco de Estagnação

Se o déficit de trabalhadores não for abordado, a CBIC estima que o Brasil pode perder até 1,5% do PIB em 2025 apenas em razão de atrasos e interrupções em obras. O setor da construção civil representa cerca de 7% da economia nacional, o que torna a expansão do emprego e a qualificação técnica essenciais.

Analistas concordam que é necessário um novo pacto educacional para valorizar as profissões relacionadas à construção. Eduardo Zaidan, economista do Sinduscon-SP, alerta que, enquanto a Europa enfrenta o envelhecimento de sua força de trabalho, o Brasil tem uma vantagem demográfica, mas não está aproveitando essa oportunidade devido à falta de formação prática.

A crise atual vai além de um problema no mercado; ela reflete uma economia que está crescendo mais rápido do que sua capacidade de treinar e empregar. Atualmente, a indústria da construção, que simboliza o desenvolvimento brasileiro, enfrenta um desafio inédito: uma real falta de profissionais qualificados para erguer suas estruturas.

Se a situação não for resolvida, o futuro da construção civil no Brasil poderá ser impactado significativamente, levando a um ciclo vicioso de atrasos e crescimento lento. Portanto, é fundamental agir agora, investir na formação e inclusão de novos trabalhadores, e adotar inovações tecnológicas para garantir que o setor continue se desenvolvendo de forma sustentável e dinâmica.

Formado em Publicidade e Propaganda pela UFG, Nathan começou sua carreira como design freelancer e depois entrou em uma agência em Goiânia. Foi designer gráfico e um dos pensadores no uso de drones em filmagens no estado de Goiás. Hoje em dia, se dedica a dar consultorias para empresas que querem fortalecer seu marketing.