A Oração das 18 Almas Benditas é uma dessas rezas que conquistam o coração das pessoas. Ela é passada de geração em geração, encontrada em cadernos, em velas perto de igrejas e em altares improvisados. Essa oração é simples, mas intensa, e é muito querida na espiritualidade popular brasileira. Muitas pessoas a utilizam em busca de proteção, consolo ou soluções em momentos difíceis.
Apesar de ser tão popular, a origem da oração é frequentemente contada de maneira confusa. Muitas explicações misturam São Cipriano, casos famosos e até eventos como o incêndio no Edifício Joelma. A verdade por trás da Oração das 18 Almas é muito mais fascinante.
A oração tradicional das 18 Almas Benditas
A versão mais conhecida dessa oração é:
“Oh! Minhas 18 Almas Benditas, sabidas e entendidas,
a vós peço, pelo amor de Deus, atendei o meu pedido.
Minhas 18 Almas Benditas, sabidas e entendidas,
a vós peço, pelo sangue que Jesus derramou, atendei o meu pedido.
Pelas gotas de suor que Jesus derramou do seu Sagrado Corpo,
atendei o meu pedido.
Meu Senhor Jesus Cristo, que a vossa proteção me cubra,
vossos braços me guardem no vosso coração
e me protejam com os vossos olhos.
Oh, Deus de Bondade, vós sois meu advogado na vida e na morte;
peço-vos que atenda os meus pedidos, livrai-me dos males
e dai-me sorte na vida.
Segui meus inimigos; que olhos do mal não me vejam;
cortai as forças dos meus inimigos.
Minhas 18 Almas Benditas, sabidas e entendidas,
se me fizerem alcançar esta graça (diga sua graça),
ficarei devoto de vós e honrarei o vosso nome.”
A origem das 18 Almas Benditas
As 18 Almas Benditas fazem parte das Almas Santas e Benditas, uma devoção antiga do catolicismo popular. Embora essa prática não esteja na liturgia oficial da Igreja, está profundamente enraizada nas tradições espirituais do povo.
É a fé das avós, das benzedeiras e dos romeiros, que aprendem a rezar “porque funciona”, não porque alguém disse. As Almas Benditas são vistas como entidades que transitam entre diferentes mundos. Elas não são “santos oficiais”, mas sim espíritos protetores que ajudam em momentos de desespero.
O número dezoito não vem de uma doutrina religiosa, mas sim da tradição oral. É um número simbólico que tem uma forte carga emocional, repetido em diversas regiões do Brasil, onde essa fé se tornou parte da vida cotidiana.
As 18 Almas Benditas como espíritos em purgação
Em muitas comunidades, especialmente nas áreas rurais, acredita-se que as 18 Almas Benditas são almas em purgação — espíritos que ainda não ascenderam completamente e aguardam redenção. Essas almas teriam a permissão de ajudar os vivos em momentos de aflição.
De acordo com essa crença, ao ajudar os que sofrem, as almas aliviam seus próprios pecados e avançam em direção à luz. Essa visão não é parte de documentos da Igreja Católica, mas é muito forte na religiosidade popular e explica por que as pessoas sentem essas almas como presenças acolhedoras.
A lógica por trás dessa devoção é clara:
- Quanto mais ajudam os vivos, mais luz recebem;
- Quanto mais luz recebem, mais próximas ficam da ascensão espiritual.
Por isso, muitas pessoas prometem distribuir a oração, acender velas ou “pagar graças”. Trata-se de uma troca simbólica entre vivos e mortos, sustentada pela ideia de auxílio mútuo.
Por que a oração NÃO tem relação com São Cipriano?
Um erro comum é pensar que essa oração surgiu no famoso “Livro de São Cipriano”. Essa ideia não faz sentido histórico. O Livro de Cipriano é uma coletânea de simpatias, rituais e rezas do povo. Algumas edições não oficiais inseriram orações populares, e a Oração das 18 Almas acabou aparecendo em algumas versões.
Entretanto, não há registros que liguem Cipriano a essa oração e não há relação direta entre Cipriano e a devoção. Essa associação é moderna e resulta de confusões editoriais, sem respaldo em tradições espirituais genuínas.
E o Joelma? A oração surgiu lá?
Outra confusão vem do incêndio no Edifício Joelma em 1974, onde treze vítimas foram enterradas juntas. A devoção se formou ao redor desse túmulo coletivo, conhecido como 13 Almas do Joelma. No entanto, isso não tem relação com as 18 Almas Benditas.
A devoção às 18 Almas já existia antes dessa tragédia. A coincidência numérica gerou um cruzamento simbólico, mas os contextos são diferentes. Além disso, a narrativa popular de que as treze vítimas foram encontradas “abraçadas dentro do elevador” não é verdadeira. Pesquisas mostram que o elevador não comportava aquele número de pessoas, desmistificando essa imagem.
Como rezar (do jeito como o povo sempre fez)
Não há um ritual oficial, apenas costumes que são passados oralmente. O mais comum é rezar a oração durante 18 dias seguidos, acompanhando com um Pai-Nosso e uma Ave-Maria. Algumas pessoas acendem uma vela, outras fazem um pequeno voto de agradecimento ou distribuem a oração impressa como forma de gratidão por uma graça recebida.
O essencial não é o objeto ou o número de nós, mas a intenção. É preciso rezar com respeito, confiança e um coração limpo, sem ver a oração como uma “transação espiritual”.
Por que a oração toca tanto as pessoas?
A força das 18 Almas está no que elas representam: presença, acolhimento e esperança em momentos difíceis. Elas oferecem um abraço espiritual que não exige explicações, não cobra perfeição e pede apenas sinceridade.
Muitas pessoas buscam essa oração quando estão cansadas, tristes, com medo ou sem saber qual caminho seguir. Para quem acredita, ela funciona porque vem de uma fé simples — uma fé que não precisa de rituais complexos ou reconhecimento oficial para existir.
