O Brasil e Suas Reservas de Terras Raras
O Brasil se destaca como uma grande potência mineral, possuindo reservas significativas de terras raras. Com cerca de 26 milhões de toneladas de óxidos de terras raras, o país ocupa uma posição de destaque, ficando atrás apenas da China. Essa situação oferece uma oportunidade única para que o Brasil agregue valor a seus recursos, diversifique suas exportações e saia da posição tradicional de exportador de matéria-prima.
No entanto, a realidade é complexa. Apesar das reservas expressivas, a produção efetiva de terras raras no Brasil ainda é bastante baixa. Em 2024, foram extraídas apenas cerca de 25 toneladas, um número muito pequeno em comparação com o potencial do país. Isso indica um grande “gap” entre o que o Brasil possui e o que realmente consegue explorar e comercializar.
O Grande Gap da Produção
A produção de terras raras no Brasil representa menos de 1% da produção mundial, que alcançou 395 mil toneladas em 2024. Esse descompasso se deve a vários fatores, como a falta de tecnologia adequada, investimentos insuficientes, dificuldades no licenciamento ambiental e a necessidade de construir cadeias de beneficiamento.
Embora o país tenha a matéria-prima, se não houver o devido processamento e refino, continuará exportando apenas minério bruto, dependendo de outros países para transformar o material em produtos finais. Essa situação limita o potencial de valor agregado que o Brasil poderia capturar.
O Papel Geopolítico do Brasil nas Terras Raras
As terras raras tornaram-se insumos estratégicos, sendo usadas em diversas áreas como eletrônicos, veículos elétricos e tecnologia de defesa. A China possui uma grande parte da cadeia produtiva, desde a extração até o refino. Por isso, países como o Brasil são vistos como alternativas importantes.
Recentemente, foi divulgado que o Brasil está buscando aumentar sua participação no mercado de terras raras, com a expectativa de operar duas ou três minas até 2035. Isso poderia fazer com que o Brasil superasse a Austrália em produção anual nos próximos anos.
Além disso, as exportações brasileiras de terras raras para a China aumentaram quase 53% no primeiro semestre de 2025 em comparação com o mesmo período do ano anterior. Esses dados mostram um crescente interesse internacional no Brasil, apesar de ainda estarmos nos estágios iniciais de exploração.
Oportunidades e Desafios
O Brasil possui oportunidades significativas de explorar suas reservas em regiões como Goiás, Minas Gerais e Bahia. Essas áreas possuem formações geológicas adequadas, como as argilas iônicas, semelhantes a grandes depósitos na Ásia.
Para obter valor agregado, o Brasil precisaria desenvolver refinarias e indústrias para processar e até mesmo produzir materiais acabados. Isso exigiria políticas industriais efetivas, investimento em tecnologia e parcerias com empresas internacionais. Assim, o país poderia se tornar mais competitivo, pois a vantagem competitiva está na capacidade de transformação do que é extraído.
Necessidade de Políticas e Parcerias
Com a crescente demanda por terras raras devido à transição energética e evolução tecnológica, o Brasil tem tudo para se inserir de maneira estratégica nesse mercado. A oferta de energia hídrica abundante e um solo rico tornam o país um candidato forte.
Para viabilizar essa inserção, o governo brasileiro está desenvolvendo políticas de incentivo para a exploração de minerais estratégicos. Isso inclui garantias financeiras e incentivos fiscais, além de atrair investimento internacional para ajudar a construir a infraestrutura necessária.
Riscos da Mineração de Terras Raras
Entretanto, a mineração de terras raras não é uma tarefa simples. Ela envolve desafios como separações químicas, refino e tratamento de resíduos, que podem ser prejudiciais ao meio ambiente. O Brasil já enfrentou problemas em outras minerações, e é fundamental evitar que a exploração de terras raras siga um caminho semelhante.
Mineração e processamento requerem grandes investimentos e um tempo considerável para retorno. Isso significa que, em períodos de baixa nos preços ou incertezas políticas, o capital pode se afastar. Vários projetos ainda estão em busca de viabilidade.
Dependência da China para o Refino
Mesmo que o Brasil consiga aumentar sua produção de extração, ainda dependerá da China para o tratamento das terras raras e para a produção de componentes finais. Por isso, é crucial desenvolver a infraestrutura local para o refino e a transformação do material. A extração é uma etapa, enquanto o refino e a produção são etapas muito mais complexas e que agregam valor.
As terras raras são uma disputa geopolítica entre potências. O Brasil terá que navegar entre as demandas de investidores estrangeiros, a necessidade de manter a soberania e a preocupação com o meio ambiente, evitando repetir os erros do passado de outros recursos minerais.
A Encruzilhada do Brasil
O Brasil se encontra em uma encruzilhada. Com reservas que poderiam colocá-lo como um protagonista global nas terras raras, a produção difícil e a falta de uma cadeia de valor bem estabelecida ainda são obstáculos a serem superados.
Para avançar, o país precisa superar desafios como investimento, processamento local e políticas adequadas de desenvolvimento industrial. Isso não significa apenas minerar mais, mas efetivamente agregar valor ao que se extrai, melhorando a posição do Brasil no mercado mundial.
Caso contrário, o risco é permanecer sendo apenas um fornecedor de matéria-prima de baixo valor, perdendo a oportunidade de participar ativamente da transformação tecnológica em curso. O relógio está correndo, e o momento de agir é agora.
